Nesta terça-feira (29/06), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou um reajuste de 52% na bandeira tarifária vermelha patamar 2. A cobrança extra que incide sobre as contas de energia subiu de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 kWh consumidos. Isso significa que houve um aumento no custo de produção de energia, o que culmina na conta de luz mais cara a partir do mês de julho.
O valor deve seguir valendo até novembro deste ano de 2021. De acordo com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, essa alta se deve a uma crise hídrica no país, sendo a pior nos últimos 91 anos. Em seu pronunciamento, ele pediu que a população fizesse uso “consciente e responsável” de água e energia.
Durante a reunião, o relator do processo, Sandoval Feitosa, se colocou contra um aumento tão considerável como o confirmado. Ele chegou a propor uma atualização de apenas 1,67%. Apesar de o valor aprovado ter sido superior ao pedido pelo relator, o reajuste foi inferior ao recomendado pelos técnicos da Aneel, no valor de R$ 11,50.
“A crise hídrica que vivenciamos não foi causada pelo consumidor. Mas esse mesmo consumidor será o principal responsável por sair dessa crise, seja pagando os custos ou economizando. Acho justo e legal que o consumidor participe dessa decisão. E ao arbitrarmos um valor agora, ele não participa dessa decisão”, disse Feitosa.
A bandeira vermelha 2 não foi a única que sofreu alta e outras bandeiras também podem influenciar em conta de luz mais cara:
- Bandeira amarela: de R$ 1,34 para R$ 1,874 por 100 kWh consumidos; e
- Bandeira vermelha 1: de R$ 4,16 para R$ 3,971 por 100 kWh consumidos.
A única que não possui cobrança adicional é a bandeira verde, já que essa indica não haver custos extras na produção de energia.
Crise hídrica gera conta de luz mais cara e alta em outros produtos
O aumento nas tarifas de energia geram um impacto que vai além da conta de luz mais cara, como a alta no preço dos alimentos. O economista Tiago Sayão, ouvido pelo portal iG, afirmou que os custos das indústrias são repassados ao consumidor. “A produção de frango, por exemplo, consome muita energia e esse aumento do custo de produção vai ser repassado na ponta. Até a carne branca vai ficar mais cara”, disse.
Outro especialista escutado pelo iG, o economista Matheus Jaconeli, afirmou que “o efeito do aumento dos preços de energia acabam se pulverizando na economia”. Segundo ele, as tarifas de energia influenciam diretamente no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deve ser acentuado pela inflação. O economista pontuou que esse pode ser um fator que irá frear a recuperação econômica do Brasil.
Jaconeli acredita que, principalmente, produtos industrializados vão ficar mais caros, uma vez que o gasto com energia é fixo para a indústria. De acordo com o especialista, produtos agrícolas e de varejo que precisam de iluminação e temperaturas adequadas devem ser os principais itens a encarecer.
“Sempre que a energia aumenta, aumenta o custo de produção de vários segmentos. Então, esses impactos não seriam tão temporários, vão ser mais persistentes e isso pode, sim, criar uma pressão inflacionária maior para esse ano”, comentou o economista André Braz à Folha de São Paulo. Isso deve influenciar até no preço do combustível, que já sofreu alta no primeiro semestre de 2021.
Governo planeja descontos nas contas de energia como incentivo ao consumidor
O Ministério de Minas e Energia vem estruturando um programa de deslocamento do consumo de energia, que deve começar a ser colocado em prática a partir de julho. De acordo com o ministro Bento Albuquerque, o objetivo é dar incentivos ao consumidor, como descontos ou créditos futuros para utilizar energia fora dos horários de pico.
“A preocupação é chegar em novembro com quedas [d’água] muito pequenas e pouca água nos reservatórios, o que torna muito provável que comecemos a ter apagões”, disse Jerson Kelman, líder do grupo que investigou o racionamento de 2001, em entrevista à Folha.
Apesar de incluir residências, o projeto é voltado especialmente para as indústrias e faz parte do pacote de medidas para combater a seca nos reservatórios das hidrelétricas. Uma das sugestões é que as empresas participantes apresentem um cronograma prévio com a energia que será poupada.
A partir disso, cada indústria poderá planejar o funcionamento das suas atividades e manter a produção em dia. Assim, as empresas trabalhariam fora dos horários de pico que, durante o inverno é na parte da noite, enquanto no verão diz respeito ao início da tarde. No entanto, os incentivos para ajudar na conta de luz mais cara ainda não foram definidos.